Eu me apegava a fidelidade dele, nem sei se ao certo ele era fiel,
mas nunca ninguém bateu a minha porta. Tentava expressar simpatia, sorria o
máximo que podia, eu achava que se forçasse felicidade ela apareceria.
Comecei a conquistar a confiança das pessoas, vivia como a aluna
que ensina seu mestre, gastava horas conversando pela internet, fazendo novas
amizades. Eu distorcia qualquer relacionamento que me aparecia, qualquer um era
o sonho.
Arrependo-me de ter lhe dado ouvidos aos outros, estava feliz
iludida, ora cheia de convites, ora cheia de ordens. Desculpe pela tagarelice,
mas sempre achei que falar era a solução para todos os nossos problemas.
Relaxei, elogiei a mim mesma, tinha que perceber o meu valor, o
mais importante eu já tinha: coragem de ser eu mesma. Eu dizia baixinho: Tudo
que não me mata, me fortalece. Eu repetia seis vezes ao dia “Você escolhe o
estresse e o estresse escolhe a doença”.
Eu era a que brigava para disciplinar, não importava se era íntimo
ou não. Tinha a ansiedade das coisas bem-feitas e tive que lhe dar com amizades
partidas, mas os riscos sempre existiram, as pessoas tinham que aprender a me
amar.
Gasto estritamente o necessário, parei de ser a gastona
profissional, parei de consumir o que já possuía, nem tudo está resolvido
porque curto viajar e isso requer bastante dinheiro.
Com o estresse fiquei uma pessoa doente, varri as convenções para
debaixo do tapete, passei a me sentir constrangida com as mesmas roupas, os
mesmos acessórios, as mesmas preocupações na mente.
Três pessoas me incentivaram a viver melhor, acho que elas
representam bem aquelas pessoas que olham a alma dos outros sem tolice, sem
achar que é frescura, mudando as suas vidas.
Passei um tempo discordando de todas as minhas escolhas
conscientes. Muitas reflexões precisavam ser feitas, eu estava na crista da
vida, com problemas no casamento, mas preferi não compartilhar. Fingia não ver
e seguia minha vida adiante.
Arcise Câmara
Imagem: Raquel Apollonio
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