Tentando conter o pesar que eu sentia pela mentira
espalhada contra mim, não é fácil ser vítima de calúnia. A força de vontade
sozinha não basta, como eu ia conter palavras já firmadas como “verdades”.
Com sorte de principiante, quem me conhece passou a me
defender. Fui traída pelo computador e isso era assustador, foi destorcido meus
vídeos e minhas mensagens, parecia que eu me entreguei para ele de todas as
formas, mas não foi.
Acho que namorei com o homem errado e nunca pensei que me
separar me traria tantos prejuízos. Entre todos os homens do mundo escolhi o
mais perfeito, achava eu.
Não achava que ajudar os outros merecesse ser tratado
como algo especial, também nunca banquei a vítima, depois do disse-me-disse um
mês que pareceu um ano, eu só queria que o tempo passasse e as pessoas
esquecessem.
Não sei se foi a raiva, o nervosismo, a vergonha, só sei
que logo após o episódio descobriram em mim a leucemia, o mundo não estava desabando, aceitei de uma
forma pouco convencional, não questionei, apenas resolvi me cuidar e viver bem
o momento presente.
Quando a gente fica doente, parece que tudo faz sentido,
foi melhor ter terminado mesmo, foi melhor encarar todos os fatos que se
apresentavam de frente, eu me tornei mais otimista.
Eu me achava com excelente capacidade intelectual,
lúcida, coerente, eloquente, eu não entendia a inutilidade e a insistência da
doença num corpo tão cheio de vida. Já
tive paranoia do consumismo, querer comprar qualquer coisinha todo mês, mesmo
que não tivesse necessidade.
Mesmo doente eu me sentia invencível, ei tinha um poder
interno inexplicável, eu achava que sabia lidar com a doença e com as fofocas
sem precisar da ajuda dos outros, eu sei que fui egoísta.
Das lições que aprendi: É no presente que está a
felicidade. É preciso compreender e aceitar essas particularidades, Eu crio a
energia que quero, boa ou ruim em qualquer situação.
Arcise Câmara
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