A impressão que dá é que só há arrependimento com a
descoberta, depois que as pragas caem em cima da cabeça do indivíduo, depois
que a polícia toma a frente e os familiares se revoltam.
Ela estava fantástica naquele vestido, não foi ele
que colocou algo na bebida dela, outra pessoa também estava mal-intencionada,
no entanto ela adormeceu nos braços do amigo que deveria protegê-la.
Tentei tirar dela todas as informações que eu pude
extrair, tentei amenizar o ocorrido para não a traumatizar, mas sem exigir
justiça e reposição do que foi feito. Sempre fui da lei da causa e efeito.
De repente me vi abraçando ela com força e com
saudade, sei que a dor vai ficar para sempre, sei que é inconcebível alguém em
quem confiamos abusar de nós, sei que não há justificativas no mundo para isso.
Ela está irreconhecível, até o tom de voz é outro,
parece que ficou mais forte, talvez um escudo protetor para que ninguém chegue perto,
talvez um lutar inconsciente para que isso não ocorra de novo.
Cresci com grande liberdade entre os amigos, sempre
pronta a confiar e ajudar, cresci achando que eles lutariam por mim até com
leões, e esse caso desestabilizou a mim e todo mundo.
Pedi para ela tentar valorizar o pouco que a vida
oferecia, o sol, a lua, a saúde, o fato de estar viva, ele poderia ter matado,
aliás ela acordou com ele em cima dela, ela presenciou a princípio sem entender
que ela não tinha consentido nada daquilo.
As coisas podem acabar piorando, quando a família
dele não apoia a justiça para que ele pague pelo que cometeu, a família denigre
a imagem dizendo que o vestido era curto demais, ela bebeu demais e há muita
gente que apoia essa conversinha fiada.
Tudo cansa, relembrar cansa, contar a mesma
história quinhentas vezes cansa, fazer corpo de delito cansa, chorar cansa, às
vezes é questionado se não seria mais fácil deixar para lá, mas subitamente vem
a certeza que a impunidade faz uma sociedade fica cada dia pior.
Arcise Câmara
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