quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Eu via uma lembrança dolorosa toda vez que olhava para ela


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Tudo parecia sem sentido, não há sentido lógico para o suicídio, não enxergamos o que ela era, o que ela sentia, seu grito através do olhar, seu desabafo através do silêncio.
Todas as outras pessoas do mundo tem um par, ela não tinha, teve uma infância de bullying, nunca foi aceita, era a gordinha engraçada, a negra sem sal, a pessoa que não se enquadrava aos padrões.
Dona da sua vida, lutou até o fim, enganou a si mesma, buscou terapia, buscou focar nos estudos, buscou a auto aprovação, buscou entender o sentido de uma vida sem sentido. 
Se reinventou e enganou todo mundo, enganou a mim, a sua mãe, aos colegas, professores, enganou os próprios sonhos, passou a perna em 50 anos de vida que ainda teria.
A solicitude parecia fora de propósito, como consolar a mãe que se culpa, quando você que mais convivia com ela nada percebeu, como abraçar sem dor, como responder perguntas tão difíceis.
Ela era muito carinhosa e amorosa, ela aguentou firme sua tristeza, seus questionamentos, suas lamentações, sua dúvidas para deixar o outro feliz, para trazer paz e tranquilidade a quem lhe cercava.
Começando a vida de novo sem ela, olhando para o meu pai, para a minha mãe, me esforçando para ler as entrelinhas de cada comportamento, tentando ver propensão ao suicídio em cada tristeza, em cada dor, em cada revolta.
Sentimentos, lembranças, diálogos de maior intimidade eram proibidos, a gente ficou no raso, a gente ficou no superficial, não sei muito bem explicar, mas era como se ela fosse íntima de desconhecidos.
E como confortar? Dizer que ela era bonita, falar que ela era glamorosa, que jamais morrerá nos nossos corações... Como conviver com a culpa? Como ter certeza que as suas atitudes mudariam esse trágico final. O olhar doloroso da mãe nunca será apagado da minha memória.
Arcise Câmara


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