Descartar o orgulho foi o primeiro assunto do dia, o
assunto em pauta teve várias reflexões e muito choro, era a primeira vez que
alguém me dizia que as minhas atitudes era de alguém orgulhosa e que não dá o
braço a torcer.
Não tenho ex-marido, nem filhos para lhe fazer concorrência,
sou solitária e talvez por isso tenha entrado no mundo da carência chamado
drogas, e com as drogas me veio a adrenalina do risco e a vontade de ganhar
dinheiro. Hoje em dia se fala cada vez mais do mundo exterior e bem menos de si
mesmos, foi nessa linha que comecei a traficar.
Carente sim, frágil certamente, burra nem tanto. Troquei
de carro velho para um carro caro de sete lugares, não vou divulgar a marca,
pois não ganhei um centavo de desconto. A concessionária nem quis saber por que
estava pagando a vista e de onde vinha à origem do dinheiro, mas aumentou em
cinco mil o valor do carro inventando desculpas.
Cometi um erro gravíssimo, cheirar e traficar, você é
enganada de todas as formas e isso fez com que eu levasse três tiros para eu me
espertar da brincadeira. O vício das drogas é uma doença iniciada por emoções
distorcidas.
Tenho medo até de escrever sobre isso, parece um mundo
imaginário, ninguém se assume, ninguém quer saber, as pessoas começam a te
olhar torto como se de fato você fosse um fracassado.
Eu não uso nada há anos, faz tempo que parei, mas ainda
sou uma recuperanda porque a sensação e o barato que eu sentia era muito bom,
porém o preço era alto demais, preço de vidas destruídas em overdoses, preços
de furtos para ter a encomenda necessária, preço dos tiros e prisões e o preço
mais alto de todos que é a dependência de não ser dono da própria existência.
Dizia eu aos meus botões “quero ser livre”, quero meus
pais vivos, minha família em segurança, minha vida de volta, quero estar cercada
de amigos. Me abstive de algumas coisas em função de outras, mas nada daquilo
era justo, certo, bom e verdadeiro.
O grupo de apoio era potente como a força de um raio, um
despertar, um segurar a mão, o grupo social movido pelos mesmos interesses, pela
ansiedade de não saber explicar como se chegou ao fundo do poço, quem nos meteu
ali, um grito de socorro. Foi assim que ressuscitei!
Arcise Câmara
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