Fiz
brilhar meu estilo de vida, não me obrigo a gostar das coisas dos outros, mas
me obrigo a aceitá-las e respeitá-las, evitei o verbo consumir, meu propósito
era ser vista linda e feliz, a aparência interna ainda conseguia esconder.
Fiz
uns dez ensaios para parecer de bem com a vida, vesti roupas que não usava há
anos e que nunca vestirei novamente. Escolhi viver, escolhi ser feliz, escolhi
o discurso de cuidadoso, delicado e amoroso.
Promovi
diálogos, coloquei o choro para dentro, o importante é a sensação de bem-estar,
de não se sentir adormecida, nem me rogar todas as pragas possíveis de que nada
é do meu merecimento.
Tornei-me
fanática por vestidos, tirei lições de tudo que me acontecia, de repente me vi
abraçando a vida com uma saudade irreconhecível. Eu que já tinha crescido com
grande liberdade me valorizava um pouco mais.
As
coisas podem acabar piorando, eu sei, a vida também nos cansa, é necessário
uniformizar as coisas boas e combater as ruins, por muitas vezes me senti
egoísta, outras tantas amei demais, mais do que a mim mesma.
Nunca
gostei que meus filhos dormissem na casa dos outros, por mais amigos e íntimos
que fossem, cada pessoa deve ter seu próprio espaço, além do mais sentiria
incômodo em me responsabilizar pelos filhos dos outros.
Eu
não conseguia tomar decisões porque não tinha confiança em mim mesma, eu era a
mocinha traumatizada. Pelo amor de Deus! Eu era aquela burra ali, sem alegria e
tentando mudar a vida para sempre.
Falava
direito com meu coração, internalizava que o dia de hoje não importa, que as
coisas iam melhorar, que era difícil receber a notícia da morte de um filho
prematuramente, e que essa drástica experiência te faz desacreditar de tudo que
um dia você acreditou e também faz você ficar em paz por não ter permitido a
ida na casa do coleguinha, foi mais tempo que ele passou com você.
Meu
filho sempre povoará meus doces pensamentos, tento salvar o que não tem
salvação, a saudade pertencente a outra pessoa deixa a vida bagunçada. Deixo o
quarto dele sempre limpo e arrumado, afinal a autoimagem do virginiano
precisava ser valorizada até do céu.
O
luto me transformou e eu sinto mais falta dele que de mim.
Arcise
Câmara
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