Por mais que disséssemos: “gostamos de você”, a depressão
não queria ouvir, até o ato de comprar ficou de escanteio, eu estava a par da
situação, sabia que a depressão é prima-irmã da ansiedade e do suicídio.
A gente sempre acha que não pode fazer nada além do que
já faz, parece incabível ninguém ter fome de viver, parece desnecessário
deligar-se emocionalmente e fazer o sopro da vida ficar inexistente.
Briguei, precisava selar as pazes, estava me sentindo com
um ar de superioridade, queria dar lições de moral, estava preocupada em
processar que não devemos virar as costas e ir embora.
As mulheres valorizam a intimidade emocional, as mulheres
tem mais depressão que homens, as mulheres cometem menos suicídios. Homens
cometem por desesperos financeiros ou ciúmes, mulheres por doenças ou por
qualquer coisa. Ambos doentes na alma.
Não é uma forma de vida ser infeliz, não é uma prática
diária da arte de viver saber lidar com as emoções... A vida é sua, mas as consequências
são de todos nós. A gente se trai quando afirma isso com todas as letras, fica
um pouco insustentável quando percebemos que nenhum relacionamento nos dá o
amparo emocional para continuar vivendo.
Não existe compromisso ou o comprometimento, a sensação
não é a mesma, ninguém fala que é proibido se matar, ninguém consegue dar
ordens ao nosso imaginário, somos individuais nas decisões.
Parecia que eu estava sob escolta policial, uma sensação
de alerta intermitente, inquietações que me faziam mudar as táticas, eu deixei
de amar, deixei de admirar, te reconheço doente, me importo, mas não posso ser
sua muleta.
Quando o compromisso e a intimidade estavam presentes
parecia tudo mais fácil de contornar, agora tudo parece pena, compaixão, não
pareço superfofa ou mão-aberta, sou dependente, controladora e dominante. Sou a
tua salvação e isso mexe demais com a minha cabeça.
Arcise Câmara
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