Eu não
costumo comer tão tarde assim, mas fiquei pensando até tarde da noite naquele
beijo, na forma como a conversa foi conduzida, no esforço de suas palavras
sobre ter um amor para toda vida.
Um piriri
tomou conta de mim, mil emoções se misturando, o tempo de solteirice havia
ultrapassado todos os recordes, temos diferença nos ritmos, eu me sinto uma
velha ao seu lado, porém temos os mesmos objetivos de vida, de gostos e
preferências...
Eu não sabia
como agir, sério. Parecia uma preparação mental e nervosa para o primeiro
beijo, fiz movimentos súbitos, não me sentia livre para errar, eu precisava
agradar quem tanto me agradou. Só isso!
Ele se
expressou bem, culto, educado, gentil. De uma hora para outra, ambos nos parecíamos
íntimos demais, velhos conhecidos, mas eu tinha medo, eu tinha muito medo. Nos
meus relacionamentos anteriores (inevitável comparar) as minhas características
que antes não incomodavam passaram a ser desagradáveis, ultrajantes. Mas
resolvi arriscar e ser eu mesma.
Passei por
momentos difíceis no amor, mas reconheço ter sido por falta de maturidade, a
gente passa tempo sem ter alguém e fica espantado com o nosso crescimento
afetivo, com o envelhecimento de velhas ideias, de regras e joguinhos que não
cabem mais.
Muita gente
diz que o tempo cura tudo, mas não é tão verdade assim, a gente traz coisas de
uma “cura passada” para o relacionamento presente, inclusive os baques e os
traumas.
Sou educada,
trato todas as pessoas o melhor que posso, mas não sei me cuidar de possíveis
cicatrizes, não consigo agonizar no presente e esperar na esperança que “um dia
ele vai amadurecer”, não sei levar as coisas na barriga. Aqui ó, tem cem.
Papai sempre
me incentivou a tudo na vida, leitura, cursos, liberdade, independência, mas eu
não aprendi a lidar com as injustiças, eu só consigo ser eu se eu me dedicar ao
parceiro.
Fico feliz
com as minhas conquistas, fico feliz em perceber que o cara não aguenta ser
amado, que não entende as energias, não sabe recompor o equilíbrio, não consegue
fazer com que eu me sentisse importante demais.
Os
machucados emocionais influenciam nas suas decisões, hoje eu exijo tudo em
troca do amor, não amo gratuitamente, meu amor é exigente, precisa ser
correspondido e normal. O sentimento precisa levantar o moral, algo que não me
faça tomar remédio para dormir depois de chorar a noite toda ou de ficar
dependente de ligações escassas.
Amar é nunca
se acomodar, nunca voltar a sua vida a uma vida sem amor, é dominar a conversa
quando o assunto é oportuno, é matar o tédio, é o desejo de agradar de alguma
forma, é tentar avisar o que te maltrata, falar do mal-estar que sente quando
as coisas estão saindo da linha.
Eu sei que é
bastante compreensível sentir tudo isso, ter dúvidas, engolir as mágoas
passadas e não falar nada a princípio, eu sei que é comum fazer cara de
paisagem quando o outro continua errando com você, quando ele cultua o corpo a
ponto de te incomodar.
As vibrações
positivas, no todo o saldo é positivo, o sentimento é maduro, talvez tudo o que
eu tenha relatado seja uma deformação de caráter da minha parte, um medo de
amar, um pavor de deixar mais claras minha vontade.
Depois de um
namoro sólido, voltei a casar, casei pela segunda vez e estou levando muita fé
nessa história, há algo que me diz que dessa vez é pra valer, algo que me fez
perceber que tudo é bem diferente, inclusive eu mesma, pasmem, até o jeito dele
olhar e se solidarizar com um mendigo de rua faz meu coração saltar de emoção.
Depois de um
tempo brotou dentro de mim um sentimento de carinho e gratidão, um sentimento
menos avassalador e mais moderado, mas não menos feliz, uma intuição de caminho
certo. Olhar para trás só me faz pensar em distúrbios mentais de como eu era
despreparada.
Ele
confortou o meu coração oprimido, ele não se confundiu em saber que não tenho
mania de limpeza, sou barulhenta, exigente, gorda e chorona e que vez ou outra
falava besteira sem pensar, ele me aceitou com meus defeitos de fábricas, mas é
claro que farei revisão sempre que precisar. O mundo mudou, eu também, ele
também, nós juntos também e o futuro reservou a felicidade que já sabemos e
sentimos.
Arcise
Câmara
Imagem We
Heart It
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