Não foi um milagre da medicina, não foi amor
nos atos, foi à vontade de lutar por direitos iguais, eu quero dizer que eu não
sei o que quer dizer ser diminuída, não ter direito a voz ou voto, ganhar menos
que homem, ter profissões “menos importantes”.
Eu me sentia radiante em perceber as mudanças
positivas para as mulheres, sempre fui capaz de encontrar uma brecha legal ao
meu favor, gosto de observar as pessoas lutando pelas suas classes, não é
guerra de sexo, amamos sexo oposto, mas é uma grande sensação de bem-estar
fazer alguns homens entenderem que algumas de nós não gostamos de lavar louças,
varrer casa, passar pano no chão.
Estava difícil me concentrar nesse texto, não
sou de colocar as pessoas em categorias, não existe uma fórmula que funcione
para todos, há quem goste dessa diferença, há quem odeie tipo eu.
Por mais habilidade que eu tenha, quero o
apoio do maridão e acho que ele quer o mesmo de mim, meu coração fica escondido
atrás de tudo isso, minhas atitudes querem dirigir caminhão, representação na
política, ter momentos de felicidade sem se preocupar em passar um monte de
roupas limpas e perfumadas.
Muita gente acha que temos de pagar o preço
de nossas escolhas, também acho que existe o preço da renúncia, o preço do
respeito, o preço de viver com simplicidade e ser bombardeada pela mídia e pelo
consumo, o preço da culpa, o preço de achar que tem mais do que merece.
A vida exige que eu lute por ela, não quero
entrar ou sair de uma categoria, eu quero apenas ser eu sem o julgamento de
ninguém, sem me preocupar com minhas expressões corporais, sem nunca prevê o
que vai acontecer, sem me preocupar com meu próprio umbigo.
Sinto-me meio bruxa quando percebo que tudo
que eu falo acontece, por várias vezes minhas palavras se tornaram realidade,
já disse que queria um amor com simplicidade e plenitude e consegui.
Já tive a sensação de Déjà-vu e aquele fato
realmente se repetia na minha vida, excesso de confiança é sempre um erro e eu
já errei demais, já meti o nariz onde não fui chamada, não se preocupe! Hoje
luto pelo direito de ser quem sou e pelo seu também direito de ser quem você é.
Eu falo com tanta certeza que estou vingando
séculos de repressão como se a repressão hoje tivesse sido erradicada, puro
capricho meu cara-pálida, não dá para ironizar num assunto dessa magnitude, o
egoísmo ainda reprime, tenho o direito de dizer não ao sexo e o direito de não
fingir orgasmo, tenho o direito de gostar de dar beijinhos no pomo de adão do
meu namorado ou de odiar certos comportamentos, mas no fim das contas o que
pesa mesmo é eu aceita-lo como ele é, aceitar a vida como ela é sem me
escravizar é claro.
Por várias vezes na minha vida as coisas
foram acontecendo do nada, os sentimentos foram ficando mais intensos, eu tinha
mania de policiar minhas palavras (sim, eu chamo palavrão), guardando segredos
inconfessáveis da minha vida sexual pregressa, era repressão e eu não entendia.
Era repressão achar que eu não poderia
namorar homens com filhos, ainda por cima viúvo ou na pior hipótese divorciado,
era repressão quando eu adorava meu amor me censurando em nome do amor e da
união.
Era repressão se apaixonar brevemente sem
saber ao menos quem era e de onde saiu, hoje entendo que os riscos são os
mesmos para ambos, entendi também que todo julgamento é uma forma de repressão
e não cabe a mim julgar ninguém.
Já fui em busca de algo que não virá até mim
de livre e espontânea vontade, já peguei foras de quem acreditava me amar, já
esmaguei o coração alheio com minhas ideias fixas e pouco flexíveis, já tive
romances descartáveis, já fiz amor como um ato sagrado e já fiz sexo de maneira
profana.
Passo fome desde ontem quando decidi treinar
o não julgamento, quero ver os outros no mesmo ângulo que eles mesmos se veem,
quero tudo e quero nada ao meu tempo, quero o hoje e quero o agora sem rodeios,
quero amar com todas as forças, mesmo que o meu amor não seja suficiente, mesmo
que não seja correspondido, mesmo que ele não tenha o menor interesse em ser
feliz. Quero fazer o que tiver a fim sem a repressão. Essa é minha vingança pro
mundo.
Arcise Câmara
Imagem We Heart It
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