Quando se
ama não há tendências suicidas, nossa ansiedade fica controlada, enterramos
dentro de nós nossas dores, mágoas, aflições e dúvidas, o estresse
pós-traumático desaparece como uma alta do consultório psicológico.
Levei quatro
anos para entender essa frase, dormi por várias vezes pensando nela, virei à
página por inúmeras vezes no amor, rompi ciclos, já me senti escrava quando meu
parceiro deixava bem claro que estávamos juntos apenas por sua generosidade.
Tantas
outras escravidões senti na pele, coisa pra gente grande: amor ilusório, baixa autoestima, enfrentar o mundo sozinha
mesmo estando acompanhada (a falta de apoio é o pior dos males).
Passei por
privações religiosas, em que a minha fé era atacada como farsa, anormalidade,
mundana, falava de anjos com desdém, as lágrimas rolavam com tanta frequência
que às vezes eu nem sabia por quê.
A escravidão
traz pequenos ressentimentos, eu sei que tudo tem remédio nessa vida, mas não
se sentir livre parece não ter vacina que te proteja ou cure desse mal, de um
jeito ou de outro adquiri ou herdei o comportamento que me escravizasse.
A maternidade
muda uma mulher, a maternidade me libertou, agora aquele filho era a coisa mais
importante da minha vida, o João merecia uma boa mãe, uma mãe de coração enorme
e que não tivesse medo em ser ela mesma. As mudanças foram gritantes, eu até
esqueci a data de aniversário do nosso casamento em que o deixou bem abalado,
minha relação não era benéfica então eu me agarrei a única relação saudável que
existia, a minha e do meu filho.
Comecei a
usar roupas menores sem me preocupar com o que ele achava, os caminhos de
libertação foram tortos e errados, inseguros e aparentemente ineficazes, mas
funcionou.
Fiz coisas
que ele jamais aprovaria se eu pedisse sua autorização, expressei-me da forma
que bem quis, evitei conflitos familiares e permiti que ele brigasse sozinho,
jogasse sua ira ao vento enquanto eu me mantinha inexpressiva. Ele fingiu uma
depressão para recuperar o posto de general, eu sabia que as minhas atitudes me
levariam a alguma coisa boa, pois no lar de lama eu já me encontrava.
Quando eu
mudei, tudo mudou. Fomos casados por seis anos, os três últimos anos muito bem
obrigada, quando eu me apaixonei por outra pessoa o fato de ter sido
escravizada por longos três anos me fez tomar a decisão de partir. Decisão
errada para noventa por cento das pessoas que eu conhecia, decisão acertada
para mim. O que todo mundo pensava era: ele já mudou, vocês finalmente se
encaixaram, pra quê se arriscar ao desconhecido?
Acontece que
eu não perdoei o tempo em que eu era escrava daquele sentimento, eu não o amei
suficiente, eu sei que a falta de amor era minha, que as coisas chegaram a
certo ponto que eu permiti e por isso mesmo me sentia fracassada em ter sido
vítima de mim mesma.
Não sou de uma
geração que culpa os pais por toda e qualquer infelicidade, não sou do tipo que
culpa as companhias do filho pelo mau comportamento deste, cada um com suas
escolhas e eu havia escolhido mal.
Eu deixei
passar questões que me desagradavam como se estivesse tudo bem, eu queria ser
modelo de elegância, de bom comportamento, de caridade e de boa índole, eu
queria meu filho louco pelo pai dele, eu me esforçava para não ser rotulada de
patricinha ou mimada, eu andava para frente até que entrei na zona proibida de
me apaixonar perdidamente por outro homem e decidi mudar de vida radicalmente.
Eu adorava a
companhia do Moisés, eu tinha mil razões automáticas para me envolver e mil e
uma para ficar na defensiva, apesar de todas as críticas, de todas as
insanidades que eu ouvi eu acreditei que era responsável pelas coisas ruins que
tinham me acontecido e por conta disso eu queria viver uma outra história, eu
não queria uma história em que eu tinha que resgatar alguém, eu queria escolher
a felicidade, a maturidade, o envolvimento, o respeito, o companheirismo desde
sempre.
Por nada
deste mundo eu não sobrecarreguei meu filho com meus conflitos internos,
disfarçava minha ansiedade, levei a serio minha própria vida, colei o coração
rachado por dor e humilhação, fiz amor como nunca tinha feito na vida, não para
satisfazer alguém, mas para trocar energias intensas. Ai! Meu Deus do Céu!
Olhar para trás só me dá um aperto no peito, um grande incômodo, um abandono de
mim.
Hoje sou vista
como uma esposa digna e dedicada, sem crise de pânico, em constante processo de
amadurecimento, com meus próprios interesses em seguir adiante, cuidando para
não me deslumbrar com as conquistas de um casamento satisfatório e cheio de
amor.
Arcise
Câmara
Imagem We
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