quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Quem sabe um dia ela perceba a verdade


Fui ofuscado pelas ilusões e procurei outra mulher, senti culpa no início, parecia aquela adrenalina de namoro de adolescência numa época que nada era possível, nada parecia sensato, era um erro atrás do outro e eu não conseguia esconder o óbvio: tinha uma amante e minha mulher estava quase descobrindo.
Eu não conseguia dormir direito, uma hora pensava na esposa, outra, na amante, a convivência pacífica foi ficando uma convivência intolerante, sem respeito mutuo, sem fichas na aposta do “felizes para sempre”.
O caminho da vitória é árduo, eu sei bem como são as tentações, eu comecei a ser afetivo só com nossos quatro filhos, eu comecei a entender que só o amor da minha mulher não me bastava, eu precisava de adrenalina. É claro que tudo isso são desculpas machistas de quem quer arrumar uma explicação para tamanha sacanagem, a infidelidade.
As surpresas que a amante me fazia eram desafiadoras, alegre, sorridente, feliz, não me cobrava nada e me dava um sexo incrível fazendo todas as minhas vontades, ela tinha boas ações e boa vontade para que eu me sentisse o único homem do planeta.
Fui traído um dia, namoro antigo, foi um acontecimento inesperado, mas a ferida ainda doía como no dia da descoberta. No fundo, eu sabia que se minha mulher descobrisse tudo estava terminado entre nós, mas eu sempre achava que poderia desfrutar um mês a mais.
O amor da parte dela, parecia mais vivo e forte do que nunca, ela com medo de me perder e com dúvidas sobre a traição começou a me tratar como um Rei, talvez estivesse tentando a manipulação e o controle sem que eu percebesse.
Comecei a ver as duas mais de perto e percebi que minha mulher poderia ser tudo aquilo que eu queria, começamos um amor ardente, sem a frieza do dia a dia, sem a capacidade de criticar tudo e todos, sem a natureza de poucos amigos. Eu precisava esquecer tudo, enfrentar que errei e me dispor a acertar.
Vencemos mais uma etapa, na verdade, eu venci sozinho, pois até o momento ela não sabia das minhas fragilidades. Eu não tinha muito talento para manter mulheres, só para conquistá-las, só para me sentir vivo, macho, alfa, ter uma visão positiva das minhas capacidades sexuais.
Afundei-me na ganância, como o primeiro caso não foi descoberto e indiretamente apimentou a relação que esfriara novamente, parti para o segundo, depois para o terceiro, depois para o quarto até não conseguir contar mais.
Eu nunca fui um bom marido, eu não sabia ser um bom marido, eu nunca tomei uma atitude para me afastar das tentações, eu nunca respeitei como fui respeitado, ela confiou em mim, permitiu até que eu dormisse fora de casa quando disse que o carro quebrou e o celular descarregou.
Ela descobriu tudo, ela intuiu também, a minha única correção foi perdê-la para sempre, o resultado da minhas atitudes foi infeliz, eu poderia ter me salvo dessa roubada, eu poderia ter abandonado os embalos ilusórios da paixão, mas eu me contentei com o “Não Era Pra Ser”.
Por minha causa eu não acreditava que merecia o melhor, eu não sabia por onde começar a ser fiel, sempre ouvi dizer que homem não nega fogo, eu nunca me fiz de forte para as tentações, eu sempre fui um fraco de verdade, um covarde.
Minha mulher sempre disse sua cartilha, não foi novidade para mim ver minhas malas prontas, arrumadas, sem choro, sem gritos, sem crueldade nas palavras, ela nunca viveu o modelo social de "feliz ou infeliz, estou casada".
Ela me amava, eu não tinha dúvidas, mas eu superestimei a aparência, a novidade, o sexo, o proibido...Tudo dependia de mim, mas eu escolhi certos fatos da vida. Hoje, estou perdendo os melhores anos da minha vida sozinho, triste, sem forças, não aceito o que aconteceu.
Eu estava sem comer há dois dias, a vida só age em função do mérito de cada um, a vida escolhe o caminho que você traçou em atitudes, nunca mais me senti aceito, importante e necessário.
Arcise Câmara


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