Minha amiga favorita tinha alguns
excessos de álcool, mas sempre que eu falava disso ela se afastava, eu estava
esperando um bônus há muito tempo, compartilhei felicidade e tudo deu errado, ele
revelou não ser muito religioso, mas era uma pessoa de bom coração.
Não tenho medo de aceitar algumas
coisas como são, evitar desentendimentos, e fazer baixar o termômetro da
ansiedade, fui independente e inflexível demais por muito tempo, meu amigo
preferido se afastou, tinha uma enxurrada de lembranças desconfortáveis e tudo
isso me deixava imóvel, perdida no tempo.
Provavelmente uma pessoa radical, inconveniente
e agressiva eu fui, mas sempre com remorso no olhar, com a vontade de vencer
tendo nas entrelinhas a petulância de se ruma pessoa difícil. Eu sou forte, protetora,
carinhosa, generosa e pouco paciente, sei perder a arrogância e tenho medo das
pessoas que não conheço e julgo pela capa.
Adoro frio, detesto calor e nasci em
Manaus, reconheço-me nas histórias alheias, sinto-me ridícula às vezes ao destilar
o ódio com tanta facilidade, evito conversa fiada, admiro a forma como muita
gente luta pelo que acredita.
A cerveja e o suor não me apetecem,
sou explosiva e já tive pretendentes gostosos em minha vida, mas nada que valha
mais que um bom caráter, claro que você não deve mudar sua essência, mas pode
pensar em ajustar alguns comportamentos, fico magoada só de pensar em tanta
coisa que não relevei.
Essa mania de ser verdadeira, de ser
real é bastante grosseira, não quero dar notícias importantes, não quero perder
tempo numa relação fadada ao fracasso, não quero uma lógica baseada em
ressentimentos e amarguras, não quero ser exaustiva e deprimente.
Não quero uma sinceridade católica, e
um medo burguês de ser feliz, não quero carapuças servindo lindamente. Quero um
mundo de atitudes, quero me acometer de alegria de repente, sem sentimento de
culpa, sem o estranho arrependimento, com a liberdade e seu preço.
Meu marido parece muito feliz no
casamento então descobri que ele tinha outra, uma válvula de escape, meu mundo
caiu, tive sede de sucesso matrimonial e descobri que meu relacionamento era
uma farsa, até onde pude perceber só estava bom para mim.
Não exatamente estava tudo perdido,
ele ficava com as partes boas e eu com as ruins, frequentávamos a alta
sociedade, eu tinha necessidade de agradar, de ter o máximo de pessoas ao meu
redor me elogiando, não tinha controle de seu passos, nunca fui de fiscalizar
ou controlar, achava que se a porta estava destrancada e se ele ficava é porque
estava tudo bem.
A pessoa boa aparenta ser direta,
verdadeira e confiante, a pessoa má aparenta ser exigente, grosseira e
arrogante, eu era uma mistura de ambas, observei a movimentação e os flertes
ele não sabia que eu sabia e eu não sabia se queria que ele soubesse.
Com o tempo eu me torno mais forte,
cobro, luto, brigo, xingo, diminuo o meu peso enorme, descomunal, não queria
ser a mulher carente ou grudenta, não queria voltar a ter intimidade na cama, o
fato de saber que mais alguém além de mim compartilhava a cama com ele me dava
nojo.
Renasci das profundezas da carência,
desacreditei no meu casamento, não aturo perdoar o símbolo do desrespeito que
se chama traição, deixei a crença de que era só uma fase de lado e fui para o
xeque-mate.
Não há vencedores ou perdedores na
separação, a pior coisa do mundo é ser admirada por qualidades que você não
quer ter, você se importa com o que estão pensando de você, você fica intelectualmente
chata e decide não salvar o mundo de ninguém, nem o seu.
Arcise Câmara
Imagem Flescência
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