quinta-feira, 7 de maio de 2015

O que as pessoas dizem dele




Estou analisando o meu campo de influência diante de tantos comentários maldosos sobre ele, segundo o que dizem, somos diferentes, eu tenho um lado brilhante e ele um lado fosco, o meu humor é leve e o dele pesado.
Quando um casal procura uma terapia a relação já está agonizando e foi assim, não diferente dos outros a situação em que eu me encontrava, eu passei a relação toda preocupada com a estética dos dentes, com as coisas que meus pais reprovavam nele, mas esqueci de me preocupar em como deixar meu relacionamento mais forte.
Hoje ele é menos crítico, discute menos, ouve mais. Hoje ele enxergar que os filhos eram preguiçosos e me sufocavam, mas antes a culpa era toda minha. Hoje ele aprova o meu jeito de ser, mas nem sempre foi assim.
Eu sofri muito, sofri até desistir, perdoei muito também até não conseguir perdoar mais. Tornei-me civilizada não por sabedoria mas sim por indiferença, eu não tinha mais necessidade de julgar ou tentar compreender, meu amor tinha falecido e eu só pude dar conta disso agora.
Os amigos apoiaram a minha decisão, sempre acharam que eu estava numa fogueira e o que mais me chamou a atenção foi eles perceberem que eu sempre era repetitiva no amor, sempre fazendo as mesmas escolhas.
As adversidades nos deixava infelizes, os velhos controles me sufocava, era preciso rejeitar os amigos, destruir tudo que eu achava certo e me concentrar em fazer a sua vontade, voluntariei-me a ser fantoche, com bom humor me sentia uma atriz a cada concessão. Mesmo assim somatizei falta de ar e dor no peito.
O nosso relacionamento chegou ao ponto do desprezo, da agressão verbal e da ironia, eu estava me esforçando em nome dos nossos quatro filhos, eu amarrava felicidade a família unida mesmo que a desunião fizesse brigas constantes.
Chegou a hora de me desvincular, era uma péssima ideia considerando que eu não tinha renda alguma, assumir o compromisso em começar do zero é muito difícil, mas ser infeliz é muito mais penoso.
Costumava me perguntar se algum dia encontraria alguém, eu ainda estava presa a ideia de felicidade com par, estava estressada só em pensar em ficar só, mesmo que ele não fosse a melhor companhia.
Contei nos dedos as noites de aflição, o desespero em conseguir dinheiro e a matança de um leão a cada dia, tinha dias que estava em baixa e os argumentos do arrependimento começaram a sondar minha cabeça.
Eu estava enganada, aos poucos tudo ia se ajeitando, as experiências desagradáveis iam ficando escassas, os encontros comuns a quem tem filhos com o pai das crianças não incomodavam, aliás esses encontros eram muito melhores que a nossa convivência de muitos anos.
Todos estamos sujeitos a mudanças, não podemos sentir medo, as coisas fluem naturalmente.
Arcise Câmara
Imagem: Irismar Oliveira


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