quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Desde o início eu já sabia







Permiti assumir o papel principal de chefe de família, meu marido perdeu o emprego e não tinha motivação para trabalhar, perdeu o brio, ficou depressivo, se sentindo incapaz, preguiçoso, sem vontade de fazer nada, desleixado consigo e com a casa, indisciplinado e irritado e sem a excelência de costume.
Tentei animá-lo em vão, era difícil fazê-lo entender que não existia nada contra ele, que perdemos emprego por vários motivos, que era preciso mudar e reagir.
Minha única responsabilidade era ficar de olho no marido, evitar falar certas coisas porque a sua sensibilidade estava ativa e qualquer mudança de humor deixava o casamento mais desgastado.
As inseguranças surgiram, eu tive dúvidas se realmente havia esse sentimento de fracasso presente em sua alma ou se ele preferia se fingir de coitadinho para ser sustentado por mim.
Eu tinha um problemão nas mãos e não sabia como resolver, eu lutava por mim e por ele e já começava a perder as forças que não demorariam para acabar.
Discursei sobre a necessidade dele se reerguer, que os acontecimentos não podem nos desmotivar ao ponto de jogar a toalha, que precisava que ele tivesse a atitude de acordar todas as manhãs, se arrumar, pegar os currículos e sair à caça.
Um processo de limpeza mental e do não julgamento me acompanhou para que eu não desistisse do marido, estava vivendo um relacionamento quebrável, cheio de defeitos, sem foco.
Designei-me a falar mentiras, a dizer que o marido da amiga se acomodou, que o primo da vizinha gostou de não ter que trabalhar, que o conhecido da diarista negligenciava a família deixando faltar o essencial. Eu não conseguia ser clara para me fazer entender.
Deixei de ser forte e triunfante, o meu profissionalismo diminuiu, não parava de falar do desemprego do marido para quem quer que fosse, eu tinha paixão por ele mesmo com seu temperamento difícil, mas estava insensível, vivendo na animosidade, dependendo da minha mãe de vez em quando para ajudar nas despesas de imprevisto.
Fui polêmica em tudo que envolvia dinheiro, utilizei de linguagem abusiva para ofendê-lo, só falava de como devíamos pensar no futuro estava cheia de rancor e má vontade.
Tomei uma posição, exigi que ele tirasse a bunda do sofá e fosse buscar emprego, ele disse que tinha desistido, que eu conseguia dar conta, que meu salário era razoável, que a vida tinha o presenteado com o meu talento e que ele não servia para nada.
Escolhi palavras para dizer que nosso casamento estava em crise, que eu não o admirava, que eu precisava de um companheiro e parceiro, eu sempre tinha sido prudente, mas tagarelei até ofender ao extremo.
Foi quando ele disse que não se arrependia de estar sem nada para fazer, que não era desconfortável para ele, então perdi minha paz e meu casamento.
Arcise Câmara
Imagem Pioneiro

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