quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Natal


Tento controlar as emoções, mas sempre término em lágrimas. É uma época de muitas reflexões e até de um exame profundo de consciência. Não posso ser da cultura da falsidade, nem com emoções desequilibradas, eu posso me adaptar ao mundo sendo boa, altruísta e de quebra feliz.
Já tive natais em completa solidão, mesmo gostando e amando quem me cercava no momento, era uma questão individual que sempre martelou na minha cabeça o momento presente e o audacioso passado que passa como filme nas festas de fim de ano.
Nessa época falo sem censura do aniversariante, do quanto o admiro, do quanto me sinto amada com a sua convivência dentro do meu coração, do quanto suas renúncias me faz grata e sua solidão ao “abandono” do Pai me faz crer que em algum momento da vida sentiremos o abandono de alguma forma.
Junto com o Natal vem à generosidade carregada de moralismo, deixamos para fazer o bem às vésperas do ano acabar, uma maneira segura de ser Gente Feliz. Não importando o que aconteça entre fevereiro e outubro, épocas menos propícias a solidariedade.
O espírito natalino nos força a sermos bons sob a desculpa de não sentirmos culpa, assim, nos tornamos dependentes de boas ações com o apoio nos momentos fáceis e difíceis. Podemos melhorar o mundo com amor e talvez seja essa a proposta do natal, devemos conter a raiva e só eu sei o quanto é difícil, queremos jogar no lixo o ressentimento e evitar os transtornos alimentares com mais uma dieta.
Sou uma sobrevivente de natais milenares, de natais em que se julga a vida alheia o ano inteiro, de desatenção aos filhos, de coração infeliz, de fé reprimida e superstição cada vez mais sofisticada.
Escolhemos nosso destino, o trabalho, dormir tarde e privar o sono tendo que acordar cedo, escolhemos o Sim e Não que damos mesmo que inconsciente, somos adeptos a Lei do menor esforço, mas podes confiar o natal é onde tudo isso se dissipa.
No natal aprofundamos o relacionamento quase esquecido, somos mais forte e feliz, acreditamos na paixão das atitudes e temos respostas para tudo, agindo assim a gente bloqueia tudo que nos incomoda.
O impacto é um estilo de vida diferente, sem a dependência de substâncias tóxicas, sem violência física ou psicológica, sem suicídio ou homicídios, natal de corpo e alma, de desafios normais e não de teorias milagrosas.
Muitas coisas me assustam, mas eu me assumo no direito de ficar triste, de sentir raiva, de resignar-me a algum infortúnio, é uma sensação de completude onde há carência de sentido, onde os bens valiosos e caros são prestigiados em detrimento a Alguém tão humilde.
Escolho a certeza da felicidade, sem o egoísmo, enfrentando dificuldades, busca por emprego, resolução de conflitos familiares e a superação de qualquer crise sem culpa por as coisas não estarem tão bem assim.
Às vezes nos colocamos num papel indefinido e complicado, nossa solidão é improdutiva, não é que estamos sós, estamos apenas com pouca vontade de socializar de forma desejada, às vezes nossos problemas são apenas sonhos e fantasias, outras precisamos de compreensão sem precisar dar explicações.
Os filhos estão cada dia mais intolerantes, o espinho social é o isolamento do adolescente ao celular, um coração sem sal e uma corrida às tecnologias, as famílias são reconstituídas várias vezes, o vazio tende a ser preenchido com mentiras, podemos ir longe se representarmos um papel.
Jesus teve o elo desatado pela corrente do Papai Noel, estamos menos interessados em divindade, resta-nos olhar nos olhos dos nossos filhos e suportar de pé os conflitos de temáticas que envolvem o nascimento de Jesus. Feliz Natal! Feliz Todo Dia!
Arcise Câmara

Imagem Wikipedia

Nenhum comentário:

Postar um comentário