segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Vamos dizer o que convém


O Brasil se chocou com o ataque do tigre ao menino, ou exatamente do ataque do menino ao tigre, onde o menino levou a pior. O que nos choca realmente é o reflexo trágico das próprias decisões. É normal agir daquele jeito? É normal sentir-se livre no zoológico ao ponto de se pendurar nas grades, pular as proteções de segurança?
Todo mundo virou juiz, uns procuravam desculpas para confinar o tigre, outros acharam a decisão demasiada prejudicial ao animal, a família não estava em condições de tomar partido em favor do menino e contra o zoológico.
Garoto irresponsável, pai irresponsável ao quadrado, disposto a minimizar os traumas. Eu torço para um crescimento e amadurecimento de toda essa família. O menino foi alertado por visitantes do zoológico, mas todos se limitaram a apenas falar, ninguém tomou a responsabilidade de pegar o menino pelo braço. A gente filma e ainda torce por desgraça, quem sabe assim fico famoso na internet (será que é assim que pensam?).
Fico alegre pela vida dessa criança, sem um braço, saindo da posição de “perfeito” para a de “deficiente”. Fico imaginando a desilusão da mãe em saber que seu filho saiu de casa saudável e voltou machucado e sem um membro por negligência.
O medo vai tomar conta do menino? Vai deixá-lo mais contido? Agora se intensificará a proteção?
Estamos sensíveis com tudo isso, uma atitude concreta e prejudicial de que não podemos zangar os animais, principalmente os enjaulados fora de seu habitat natural. Não encontrei forma adequada e atraente para dizer que sinto muito ao menino por ter um pai desse.
Às vezes exemplos não são compreensíveis, é preciso receber a “punição da vida” e aí me pergunto vale a pena correr riscos desnecessários? Será que se o pai o chamasse ele iria falar ao vento?
A esperança é que esse triste episódio seja exemplo para muitos pais, mães, responsáveis, madrinhas e babás, que essa negatividade seja motivo para mudança de atitudes. Não somos prisioneiros, mas não somos livres para tudo.
Não se contente em ser exigente, zeloso, cuidador, é melhor pecar pelo excesso que pela omissão. Eu desejo luz, força ao menino, eu desejo uma responsabilidade mais sólida e profunda ao pai.
Eu desejo uma nova filosofia de vida, ou seja, assumir diferentes posturas para alguns riscos, uma atraente motivação para cuidar, uma capacidade de enxergar os perigos, um profundo discernimento para analisar os sinais.
Tudo são apenas detalhes da vida alheia, a gente se comove diante do outro, a gente deseja que o tempo volte atrás e que nada disso tivesse acontecido, a gente não quer ter histórias ruins para contar. Somos inclinados ao contraditório, por isso defendemos nossos pontos de vista.
Não importa muito quem tem ou não razão, nada vai trazer o braço do menino de volta, o que precisamos é preencher a nossa vida com amor sem limites, com uma conexão íntima, sem perder a fascinação do cuidado.
O episódio trouxe reflexões pessoais e sociais, sem qualquer influência para muita gente, mas com muitos acontecimentos e emoções para essa família, seu parentes, seus próximos. A vida nunca é individualizada, se não podemos mudar o mundo, podemos mudar a nós mesmos sem dramas e cansaços.
Arcise Câmara
Crédito de Imagem: Yada


Nenhum comentário:

Postar um comentário