O Brasil se
chocou com o ataque do tigre ao menino, ou exatamente do ataque do menino ao
tigre, onde o menino levou a pior. O que nos choca realmente é o reflexo
trágico das próprias decisões. É normal agir daquele jeito? É normal sentir-se livre
no zoológico ao ponto de se pendurar nas grades, pular as proteções de
segurança?
Todo mundo
virou juiz, uns procuravam desculpas para confinar o tigre, outros acharam a decisão
demasiada prejudicial ao animal, a família não estava em condições de tomar
partido em favor do menino e contra o zoológico.
Garoto
irresponsável, pai irresponsável ao quadrado, disposto a minimizar os traumas.
Eu torço para um crescimento e amadurecimento de toda essa família. O menino
foi alertado por visitantes do zoológico, mas todos se limitaram a apenas
falar, ninguém tomou a responsabilidade de pegar o menino pelo braço. A gente
filma e ainda torce por desgraça, quem sabe assim fico famoso na internet (será
que é assim que pensam?).
Fico alegre
pela vida dessa criança, sem um braço, saindo da posição de “perfeito” para a
de “deficiente”. Fico imaginando a desilusão da mãe em saber que seu filho saiu
de casa saudável e voltou machucado e sem um membro por negligência.
O medo vai
tomar conta do menino? Vai deixá-lo mais contido? Agora se intensificará a
proteção?
Estamos
sensíveis com tudo isso, uma atitude concreta e prejudicial de que não podemos
zangar os animais, principalmente os enjaulados fora de seu habitat natural.
Não encontrei forma adequada e atraente para dizer que sinto muito ao menino
por ter um pai desse.
Às vezes
exemplos não são compreensíveis, é preciso receber a “punição da vida” e aí me
pergunto vale a pena correr riscos desnecessários? Será que se o pai o chamasse
ele iria falar ao vento?
A esperança
é que esse triste episódio seja exemplo para muitos pais, mães, responsáveis,
madrinhas e babás, que essa negatividade seja motivo para mudança de atitudes.
Não somos prisioneiros, mas não somos livres para tudo.
Não se
contente em ser exigente, zeloso, cuidador, é melhor pecar pelo excesso que
pela omissão. Eu desejo luz, força ao menino, eu desejo uma responsabilidade mais
sólida e profunda ao pai.
Eu desejo
uma nova filosofia de vida, ou seja, assumir diferentes posturas para alguns
riscos, uma atraente motivação para cuidar, uma capacidade de enxergar os
perigos, um profundo discernimento para analisar os sinais.
Tudo são
apenas detalhes da vida alheia, a gente se comove diante do outro, a gente
deseja que o tempo volte atrás e que nada disso tivesse acontecido, a gente não
quer ter histórias ruins para contar. Somos inclinados ao contraditório, por
isso defendemos nossos pontos de vista.
Não importa
muito quem tem ou não razão, nada vai trazer o braço do menino de volta, o que
precisamos é preencher a nossa vida com amor sem limites, com uma conexão
íntima, sem perder a fascinação do cuidado.
O episódio
trouxe reflexões pessoais e sociais, sem qualquer influência para muita gente,
mas com muitos acontecimentos e emoções para essa família, seu parentes, seus
próximos. A vida nunca é individualizada, se não podemos mudar o mundo, podemos
mudar a nós mesmos sem dramas e cansaços.
Arcise
Câmara
Crédito de
Imagem: Yada
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