quinta-feira, 17 de julho de 2014

Outras ordens de realidades


Fiz qualquer outra coisa, nasci de uma simbiose harmoniosa, tive exemplos únicos que permitiram uma vida regada a valores éticos que catalisa o coletivo frente à individualidade, percebi que minha personalidade estava formada, mas precisava de ajustes para melhorar a cada dia.
Tive afetos que se afastaram, descobri minhas próprias sensações, controlei as emoções do meu jeito, conheci meu próprio corpo, curei e refiz meu coração várias vezes, fui escrava de uma série de fatos, vivi tensões na faculdade, preocupações com gravidez indesejada, traumas de ter sido trocada por outra.
As coisas foram se acumulando, foram somatizando foram metabolizando reticências no meu coração, comecei a utilizar a perigosa arte de engolir calada, passei a ser insegura, não digna de amor, rígida com quem está bem próximo, fraca e chorona, fui rejeitada e nem sempre soube lidar com isso.
Comecei a descarregar toda negatividade da minha vida em agressividade, não tentei saídas por drogas ou bebedeiras, fui competitiva, fui raivosa, explosiva, vingativa, silenciosa, destrutiva a mim mesma, engolia calada e explodia por dentro.
Eu parecia razoavelmente sociável, bem comportada, porém tinha medo de reviver experiências que doeram bastante e que ainda doem, continuava insatisfeita e preste a explodir, pus para fora minha indignação, não resolveu muita coisa.
Não adiantava absolutamente falar ou perguntar, todas as respostas eram ofensivas demais, o diálogo se reduz ao mínimo, foi um drama mexicano, uma decisão forçada de separar antes que as mágoas virassem metástase.
Junto com a separação veio também à renúncia da maternidade por motivos de me achar velha aos 42 anos e sem paciência para criar um filho sozinha, com a dependência de ter ajuda de terceiros, além da falta de coragem para assumir determinadas responsabilidades de mãe.
Usei a imaginação e entendi claramente o que havia mudado, cansei das nostalgias que me oprimia, tomei uma decisão irreversível, escolhi ser feliz sozinha, me amar acima de tudo, ser mãe solteira nunca foi meu desejo de vida. Às vezes me sentia abandonada e desprezada pela  própria família.
Eu não me sentia superior para criticá-lo, ele merecia ser feliz com quem quer que fosse, não fiquei fria com ele, ninguém tinha culpa nessa história toda. Foi apenas um aprendizado, uma descoberta do meu eu, o valor da intuição, a ruptura do ego, o reencontro comigo mesma, a delicadeza das decisões conflitantes, a bondade acima de tudo, especialmente a pureza de não desejar mal ao outro.
Ninguém tem soluções prontas, os laços afetivos também se rompem, a vida não é só de coisas nobres, carregamos ressentimentos, mágoas, dores, traumas, mas também é possível ter um bom  relacionamento, deixar os desgostos de lado, engessar os acontecimentos tristes do passado, transformar situações extremamente difíceis em aprendizado.
Arcise Câmara

Crédito de Imagem: www.pibpaulista.com

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