Eu não a aceitava, era difícil
conviver com a infidelidade do marido, ele usava uma máscara que ocultava sua
personalidade e eu entupida de complexo de culpa, complexo de superioridade por
ter sido traída e complexo de inferioridade por vê-lo se interessando por
outra.
Cometi leves erros, mendiguei
amor, deixei morrer meu egoísmo, mas também cometi acertos, encontrei-me comigo
mesma, analisei profundamente minhas atitudes ou falta delas, foram simples
conjeturas que me fizeram mudar tanto.
Meu casamento estava constituído
por tudo aquilo que ignorei, tornou-se divisível, frágil, com duas pessoas
imaturas gerindo de qualquer forma, não só estava desunida a ele, como estava
desunida a mim mesma, a como sou como indivíduo, as fugas reprimentes da nossa
real situação.
Critiquei algo nele que não
passava de projeção das minhas próprias críticas, fui desorganizada com os
sentimentos, poderia ter me socializado de uma forma mais aceitável. Não! Não
estou me culpando, mas não o vejo como único errado nessa história toda, minha
mente recapitula as palavras grosseiras, a convivência chata e a falta de
vontade de melhorar o nosso ambiente.
Cada um reivindicava
exageradamente seus próprios interesses, cada um se recusava a ceder um pouco
ou a reconhecer o direito dos outros, queremos ser aceita como somos e não
queremos aceitar o outro como ele é.
Estava diante de comportamento
assumido como bom, quando na verdade era apenas um disfarce para massagear meu
ego, ele também agia assim, uma hora ou outra tomávamos atitudes positivas, uma
hora ou outra deixamos de lado as negativas. Às vezes dava a impressão que o
amor crescia e o ódio diminuía.
Cresci num ambiente de
compreensão e foi dificílimo para mim entender que o casamento e o amor não é
simples como um jogo de cartas, não é previsível como dos seus pais, não é o
tempo todo com o coração agitado e com paz ou completo de alegria.
O amor tem me proporcionado o
temor em perder, a abrangência de um sentimento desproporcional, uma atitude de
espanto perante tantos acontecimentos ruins onde deveriam ser acontecimentos
bons, eu tinha fobia a quebra unilateral do amor e isso atrapalhou muito a
minha vida. Quando não queremos perder, aceitamos tudo de qualquer jeito.
Não havia um motivo tão real para
que não déssemos certo, apesar de nossos defeitos e contradições, analisando
intimamente era apenas o confronto das responsabilidades que o casamento exige,
o equilíbrio em não machucar o outro e assim não rejeitá-lo, afastando os
sentimentos de desconfiança, disfarçando o medo de perdê-lo, curando nossas
próprias inseguranças.
Eu gostava de mim do jeito que eu
era e muito me incomodava ver a pessoa que eu mais amava me apontando defeitos,
sei que “Santo de casa não faz milagres”, mas atribuía todas as suas críticas
ao sentimento de inveja. Na minha cabeça existia muita competição entre nós
dois, de uma maneira inconsciente, não se notava mais com facilidade nossa
virtudes.
Arcise Câmara
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