Costumamos eliminar o diferente,
nos afastar do que nos incomoda, julgar o que nos desagrada, gerar conflitos
para sermos aceitos como somos, mas não necessariamente aceitamos o outro como
ele verdadeiramente é.
Inicia-se as guerras sem fim, os
julgamentos, o modelo contrário de civilidade, não proponho aceitação cega, o
que seria o mínimo necessário é acreditar que os outros também tem suas razões,
quer por lições de vida ou vivências experimentadas, o amor próprio não divide
o amor coletivo, os opostos não precisam se digladiar.
O coração disfarça, estremece,
salta quase fora do peito, não há tempo para o jantar, eu janto às 18 horas e
ele prefere cear. Muitas pessoas não dão importância às refeições feitas em
família, eu dou! Aliás, dou importância a tantas coisas, inclusive as inúteis.
Por muito tempo me senti escravizada
nesse relacionamento, por muito tempo achei que ele estragava tudo, então
resolvi buscar para mim algo que me realizaria, mudei a mentalidade e
principalmente o comportamento, instalei na minha vida outras motivações,
raciocinei com o foco na minha felicidade.
Queria estar bem viva, sair da
posição de vítima e oprimida, fazer a minha vida acontecer sem depender de
qualquer apoio emocional externo, não que eu não precise de ninguém, ninguém, é
uma ilha, mas colocar minha felicidade na mão dos outros é um jogo perigoso
demais.
Cada peça vivida nessa relação
teve sua importância, para mim foi encontrar-me comigo mesma, aceitar meus
talentos, doar-me sem garantias de recompensas, preservar o respeito no
casamento enquanto as coisas ainda davam certo, apesar das tormentas noites de
discussões.
Como resultado uma mudança,
senti-me mais leve, no entanto com grandes contradições no meu coração, era uma
passagem da minha vida inexpressiva, vivia dividida e amargurada, precisava
reconciliar-me primeiramente comigo.
Quantas vezes o sono deixou de
vir, minhas energias se concentravam no relacionamento tenso, na quebra de
confiança, na não aceitação do meu eu perante o outro e muito sofrimento se
instalou, até que eu tive a tentação de voltar atrás, começar do zero,
experimentar uma fase egoísta, centrada em mim.
Quando deixamos algo é sempre em
vista de conseguir algo melhor, era esse meu lema do momento, precisava desse encontro
comigo, encher minha mente com pensamentos positivos, abrir a boca para falar
com respeito, deixar de lado o interesse do outro em ser feliz pisoteando na
tua felicidade.
Não dizem que “Você é aquilo que
pensa”, eu não pensava nada de agradável ao meu respeito, a sabedoria secreta
dessa frase passava despercebida, ou pior, percebida de forma acategórica.
Fiquei mais instintiva, com o
intuito de sobrevivência, com a complexidade do meu coração sangrando, cheias
de ondas delta, agora focada em ser feliz.
- Arcise Câmara
- Crédito de Imagem:
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