Não chegou de imediato, a crise
dava seus sinais, talvez um sinal imperceptível para quem estava segura demais
de sim, um alerta não sonoro ou visual, nada estava em minhas mãos. A decisão
era do outro, não tinha o menor controle sobre os rumos do nosso
relacionamento.
Eu o perdoei, não sei se com toda
a força de um perdão sincero, pois estava com muita mágoa e raiva, não cutuquei
feridas velhas nem novas, não joguei suas atitudes na cara, não sabia se
perdoar era o certo para nós mas eu gostaria muito de tentar, gostaria de fazer
o que me convém, de acreditar que tudo não era uma mentira.
Trago os reflexos da minha
família, não me surpreendo ao seguir os mesmos passos da minha mãe, de uma hora
para outra a gente repete o que passou a vida vivenciando, nem tudo é
relativizado.
Sempre achei que quanto mais eu
me doasse, mais receberia e isso tem fundamento talvez até científico, é o
ciclo da bondade, você faz aqui e recebe ali, mas observe bem a gente sempre
acha que faz muito pelo outro ou que o outro faz pouco por nós, às vezes
fazemos coisas que na nossa cabeça nos agradam sem perceber que o outro pensa
completamente diferente.
De repente, passei a encarar a
vida tal como é, sem tantas fantasias, sem regras de perfeição, sem achar que a
árvore da vida só são flores e frutos, ou ainda ter a inocência de pensar que
não existe inveja e que todo mundo é politicamente correto, ou que por conta da
maneira como tratamos seremos recompensados ou punidos.
Fiquei perplexa quando me deparei
com a triste realidade da não garantias que a vida nos dá. Eu aprendi a dura
lição de que não consigo transformar ninguém, não posso ficar calada diante
daquilo que me incomoda, mas as exigências para que o outro mude são só minhas.
Por anos me senti desacompanhada,
o amor não me trazia mais vida, as perguntas não eram mais inocentes eram
alfinetadas apontadas para o outro, as conquistas do outro não causava
felicidade, os atalhos para ter uma vida feliz longe do amado eram inúmeros,
mas não é assim que a banda toca.
Aquela formosura de vida de
solteira era uma grande ilusão, eu pensava que o conhecia suficiente, eu
pensava que eu era tolerante e tinha ideias legais e satisfatórias sobre a
família, eu pensava que sabia avaliar e julgar comportamentos, mas estava
enganada.
Só percebi a falta da presença na
ausência, só percebi que o sentimento era muito maior do que a convivência
ruim, acompanhei a onda da separação fácil, falei apenas o necessário,
conservei a boa saúde, não tive insônia ou ódio.
O tempo colocou tudo em seu
lugar, a vida passa muito rápido para lamentações, o mundo não traz o acaso,
viver é aprendizado, viver é a arte de adaptação, viver é numa hora ter feridas
e na outra ser curada.
Reza a lenda que nunca devemos
bater uma porta para sempre, que o pra sempre nunca existe e que tudo é bem
relativo, também reza a mesma lenda que divulgar planos futuros atrasa e que
pessoas vazias, frágeis e inseguras não são boas opções porque não demonstram
gratidão, fazem apenas o que pensam.
O mundo não nos recompensa como
achamos que merecemos, mas o mundo deve nos respeitar, aplaude as conquistas
por mérito próprio, agradece ao universo, quebra preconceitos, nos dá novas
possibilidades.
- Arcise Câmara
- Crédito de Imagem: Embarque na viagem
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