É assim que
lembro do meu tio alcoólatra, bebia até cair, a família cansou de buscá-lo
na sarjeta, era uma decisão infeliz, ele
não se sentia doente e nós não conseguíamos mudar seu ponto de vista.
Ele não era
aparentemente saudável, usava roupas inapropriadas, cabelos assanhados, com uma
vontade súbita de morar na mesa de um bar.
De forma esplêndida ele se destruía a cada dia. Fiel a cerveja, whisky e
cachaça.
Era um otimista
incorrigível, a vida estava sempre pedindo comemoração com um copo de bebida na
mão, havia mil razões para convencê-lo do contrário, mas ele estava
completamente feliz com sua escolha.
A família foi
paciente, passou por momentos de vergonha, por dúvidas sobre uma internação compulsória,
sob o olhar de julgamento de quem não entende da cruz de ajudar quem não quer
ser ajudado.
Às vezes damos
mais importância às drogas ilícitas do que ao alcoolismo, mas o sofrimento é o
mesmo de toda dependência, principalmente para a família que não sabe como
agir.
Por várias vezes
ele foi encontrado molhado de xixi, com frio de uma madrugada ao relento quando
resolvia mudar de bar e sair de casa sem avisar, com dívidas exorbitantes de
vendas no fiado.
Foi tudo
repentino, uma dose aqui, outra ali, uma vontade de beber de dia, de tarde, de
noite, de madrugada, uma vontade de não sair do bar até ser expulso porque o
estabelecimento precisa fechar.
Nem ele
acreditaria que fosse possível se viciar, de jeito nenhum, essas coisas
acontecem com os outros, ficamos imunes, não sofro de nada, posso parar quando
quiser, bebo porque gosto e me faz bem são as respostas de sempre.
Essas pessoas
não afundam sozinho, não sabem a gravidade de adoecer a família inteira com
preocupações, com emoções desgastantes, com falta de dinheiro desviados para o
bar, meu tio foi rico, poderoso, político, importante, porém perdeu tudo, se
afundou.
Perdeu
principalmente a dignidade, o respeito, o amor-próprio, perdeu seus neurônios,
perdeu o que a vida tinha a lhe oferecer, perdeu a bondade, se espatifou no
chão, se destruiu.
- Arcise Câmara
- Crédito de
Imagem: http://bioquimicadoalcool2010.blogspot.com
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