Estou tentando
me adequar as minhas necessidades, aceitar-me como sou, aceitá-lo como ele é,
incluir-me como parte da minha nova família, disciplinar-me para ser uma boa
esposa, uma boa mãe, uma boa amiga, uma boa filha, boa em tudo, mas sem cobranças
a mim mesma.
Cansei das
pessoas me dizendo como ser, todos do mesmo modo, homens com bundas nos sofás e
mulheres esquentando comida no fogão. Não gosto disso, é algo difícil de dizer,
mas não sou empregada de ninguém, nem gosto de tarefas domésticas, nem acho que
devo gostar.
Não esqueço dele
olhando para mim com um ar magoado, com uma decepção impressionante, o problema
se resolvera totalmente com a contratação de uma empregada doméstica, assim eu
não precisava me incomodar com toalhas molhadas em cima da cama, com cuecas no
chão do banheiro e sapatos pela sala.
Várias coisas
representavam uma ameaça, a forma como nos comunicávamos em meio a brigas, os
massacres com palavras, a impunidade das traições. Eu me acanhava, mas tinha
que decidir entre ir embora para sempre ou fingir que não sabia, resolvi fingir
que não sabia e fiz isso com sucesso.
Minha vida está
repleta de coisas bizarras e verdadeiras, talvez um estudo antropológico revele
que não sou a única, atitudes meio indefinidas moralmente, aceitei vários
papéis que talvez você não vá acreditar.
Porém,
milagrosamente uma nova confiança surgiu dentro de mim, comecei a me comportar
de forma majestosa, como se fosse da família Orleans, resolvi deixar de ser um
pouco doida varrida e exigir dos meus relacionamentos no mínimo homens “filé
mignon”, ou seja, homens de primeira.
Meu coração é
incorrigível sob a desculpa de manter-me feliz, já fiz coisas hilárias como
buscar atenção de namorado cretino, já fui gênio de sandices amorosas, possuía
um talento natural de ser rejeitada cada vez que me humilhava.
Ri, chorei e
comemorei cada vitória ou derrota, afoguei-me em lágrimas, botei um ponto
final, recebi preciosos palpites de
pessoas que me amam de verdade e agradeço o impagável carinho que obtenho dessas
pessoas.
Puxaram minha
orelha quando necessário, deram pitacos nos momentos certos, conselhos
arrojados e justos, resolvi refazer a minha história, transformei o ponto final
em ponto seguido, mas ele teria que se adequar.
- Arcise Câmara
- Crédito de Imagem: relacoes.umcomo.com.br
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