terça-feira, 20 de maio de 2014

Embora ainda estivesse grogue


Foram tantas medicações para dormir, tanto choro naquele funeral, meus olhos estavam vermelhos-sangue, muitos seguravam suas lágrimas, eu havia perdido meu único filho, uma pessoa especial para mim.
O choro doía, as pessoas não sabiam como acalmar meu coração, não havia força de vontade suficiente nem para levantar da cama. Em cinco dias seria a festa de seus três aninhos, o lugar já tinha sido alugado, os brigadeiros encomendados, os salgadinhos escolhido, o tema era “Mágico”.
Tornei a poltrona de seu quarto o meu lugar favorito, dei inicio ao meu protesto com o Criador, fui aos parques, as praças e aos lugares que ele sempre gostava e me pedia para ir, tenho lembranças lindas do quanto mostrei pobreza, riqueza, cores, pessoas diferentes e que eram iguais.
Muitas pessoas vinham onde eu estava, tentavam me dar algum conforto, nessa altura eu esqueci que tinha marido, pois me tranquei no meu próprio mundo, recebi valiosos conselhos, outros me humilhavam, sem a pretensão é claro!
Uma coisa eu não podia negar tinha muito gente preocupada comigo, muitos mandaram flores, homenagens, bilhetinhos, outros mandavam especialidades culinárias como biscoitinhos, bombons, chocolates, outros me davam malditos sermões.
Agora de uma coisa eu tinha certeza, ele estava bem, meu instinto nato de mãe imaginava um paraíso esplendoroso com jardins, gramas, flores, árvores, balanços e muita luz.
Era um cérebro evoluído para tão pouca idade. Mudei de atitude, resolvi deixar partir e foi assim que separei para doação todos os seus brinquedos, suas roupas, seus sapatos, a mochila, a lancheira. Fiquei com algumas peças para me distrair, para dedicar minha saudade, para me apegar de uma forma até infantil ao que ele gostava.
Esqueci as obrigações do dia-a-dia, o dia ficou longo, chato, triste, o meu elétrico, carinhoso, bagunceiro e curioso filho não estava mais entre nós. Eu não poderia contagiar quem me cerca com minha tristeza, qualquer pessoa percebia que eu morri junto.
Qualquer incentivo para viver eu riscava do caderno, a minha mente estava sempre distraída com todas as lembranças dele nesses três anos, ele aqui seria perfeito! Tudo me fazia lembrar dele.
- Arcise Câmara
- Crédito de Imagem: venezamutante.weebly.com


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