Foram tantas
medicações para dormir, tanto choro naquele funeral, meus olhos estavam
vermelhos-sangue, muitos seguravam suas lágrimas, eu havia perdido meu único
filho, uma pessoa especial para mim.
O choro doía, as
pessoas não sabiam como acalmar meu coração, não havia força de vontade
suficiente nem para levantar da cama. Em cinco dias seria a festa de seus três
aninhos, o lugar já tinha sido alugado, os brigadeiros encomendados, os
salgadinhos escolhido, o tema era “Mágico”.
Tornei a
poltrona de seu quarto o meu lugar favorito, dei inicio ao meu protesto com o
Criador, fui aos parques, as praças e aos lugares que ele sempre gostava e me
pedia para ir, tenho lembranças lindas do quanto mostrei pobreza, riqueza, cores,
pessoas diferentes e que eram iguais.
Muitas pessoas
vinham onde eu estava, tentavam me dar algum conforto, nessa altura eu esqueci
que tinha marido, pois me tranquei no meu próprio mundo, recebi valiosos
conselhos, outros me humilhavam, sem a pretensão é claro!
Uma coisa eu não
podia negar tinha muito gente preocupada comigo, muitos mandaram flores,
homenagens, bilhetinhos, outros mandavam especialidades culinárias como
biscoitinhos, bombons, chocolates, outros me davam malditos sermões.
Agora de uma
coisa eu tinha certeza, ele estava bem, meu instinto nato de mãe imaginava um
paraíso esplendoroso com jardins, gramas, flores, árvores, balanços e muita
luz.
Era um cérebro
evoluído para tão pouca idade. Mudei de atitude, resolvi deixar partir e foi
assim que separei para doação todos os seus brinquedos, suas roupas, seus
sapatos, a mochila, a lancheira. Fiquei com algumas peças para me distrair,
para dedicar minha saudade, para me apegar de uma forma até infantil ao que ele
gostava.
Esqueci as
obrigações do dia-a-dia, o dia ficou longo, chato, triste, o meu elétrico,
carinhoso, bagunceiro e curioso filho não estava mais entre nós. Eu não poderia
contagiar quem me cerca com minha tristeza, qualquer pessoa percebia que eu
morri junto.
Qualquer
incentivo para viver eu riscava do caderno, a minha mente estava sempre
distraída com todas as lembranças dele nesses três anos, ele aqui seria
perfeito! Tudo me fazia lembrar dele.
- Arcise Câmara
- Crédito de
Imagem: venezamutante.weebly.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário