sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Fingindo dormir



                                                               Imagem: http://www.weineboutiquedosbordados.com.br

Esta noite não, estava cansada demais para discutir a relação, precisava de uma folga, pelo menos uma vez por semana queria dormir em paz, sem antes ter de chorar, sem estar com o coração apertado, sem precisar me explicar o óbvio, éramos diferentes e precisávamos nos respeitar mutuamente.
Na sua concepção de família feliz eu não chegava aos seus pés e teríamos muito trabalho pela frente até que eu me moldasse, estava ressentida demais, não desejava ser outra pessoa, mas também não estava cega que não precisava de mudança, precisava sim, mas não impostas na base das ameaças.
Era tudo muito conflitante, precisava fingir estar dormindo e acabar dormindo de verdade, precisava lembrar como eu era antes de tantas imposições, procurava na memória quem era eu, alguém se lembra?
Peguei gosto por fingir e mentir, dava certo então virou tática rotineira, não era embaraçoso, não tinha que me justificar, apenas tornei-me a velhinha cansada e sonolenta de todos os dias, a desmemoriada, a que não faz nada por mal, era apenas cansaço, para mim, uma fuga mágica.
Todos os problemas eram insignificantes, quando não estamos na sintonia do amor, olhamos o outro com os olhos da lama, magoamo-nos facilmente, tudo vira  desastres, tudo é abismo, o tempo vira eterno, mas não o eterno dos enamorados e sim o eterno das horas que não passam, do tédio que se instala.
Eu não me reconhecia, o sono virou prazer, eu me esqueci de dizer que estava viciada no sono, dormir me fazia bem, achava incrível dormir cedo, mesmo com os resmungos do
“Já?”.
Que merda! Tudo que é demais causa dúvidas, questionamentos, argumentos, tudo estava mal, não segreguei as coisas e misturei tudo, fiquei mal espiritualmente, fiquei mal como mãe, fiquei mal como filha, fiquei mal como profissional porque estava mal como esposa.
O meu jeito de se vestir também sofreu variações, não existia vontade mínima para que eu me sentisse bem comigo mesma, eu me achava insignificante demais no momento para estar ou me sentir linda, eu não me respeitava o suficiente para curar as feridas internas, eu menosprezei todos os sinais internos de valorização pessoal, eu tinha desdém de mim mesma.
O recomeço, custou, mas chegou, como a mudança de estação do inverno para a primavera.
- Arcise Câmara

Nenhum comentário:

Postar um comentário