quinta-feira, 20 de junho de 2013

Nós fingimos que podemos amar



Nós fingimos que podemos amar sem medidas, mas a nossa medida é a reciprocidade. Ninguém cria um filho para nunca receber a visita na velhice, ninguém ama um homem que não retorna o mínimo de companheirismo e respeito, ninguém se ilude que o amor sozinho trabalha sem a motivação interna e o esforço constante.
Algumas ilusões morrem, mas nem todas, às vezes nos seguramos naquele fio de esperança, no “vai melhorar”. Conhecemos o amor na medida em que nos sintamos amadas, essa história de “tenho amor por nós dois” não se sustenta por muito tempo. Não agüentamos fingir que podemos prosseguir de qualquer maneira, vivendo de aparências ou com expectativas superficiais, não conseguimos fingir que podemos ir em frente sem carinho, sem cordialidade, sem o toque de antes, posso até reprimir meus desejos daquela época, mas o insosso atual em contraste com as emoções preferidas daquela época nunca morrerá e o sonho de que tudo volte ao normal se aprimora dentro de nós. Ao longo de anos a única ligação que temos com o amado é a esperança de que a vida a dois melhore.
Morrem as fantasias, o conhecimento da vida a dois, as expressões forçadas de que está tudo bem, as ilusões, as expectativas, a vontade de mudar o outro, a voracidade de querer tudo do jeito antigo, de querer que tudo seja lindo e palpitante, tudo isso morre aos poucos, como as flores nunca regadas. Nasce à tristeza, o relacionamento de qualquer jeito, a falta de libido e prazer, a felicidade, a devoção a um amor e o desencanto dos aspectos mais positivos que já existiram. Nasce a certeza da morte do amor e toda morte traz o fim para sempre.
- Arcise Câmara

Nenhum comentário:

Postar um comentário